"É preciso parar de vender m2 e promover a felicidade no imóvel”

Para o estatístico e pensador brasileiro Marcus Araujo, os novos empreendimentos têm de ser desenvolvidos com visão de futuro.
12 set 2022 min de leitura

2020 veio provar que o mundo está em constante mudança. A pandemia transformou a economia, a política, as relações sociais, também a cultura, a ciência, a tecnologia, ou a educação. Revolucionou o mundo dos negócios, nomeadamente o imobiliário, convertendo a casa onde se vive no lugar mais importante de todos. Para o estatístico e pensador brasileiro Marcus Araujo, Futorologista do morar, a “pandemia foi o resgate do valor mais ancestral dos imóveis: a proteção da vida humana”, uma vez que as casas passaram a proteger-nos de uma “ameaça invisível” à nossa espécie: o vírus da Covid-19. Depois da pandemia, veio guerra na Ucrânia, e o setor volta a estar à prova. Mas o especialista não tem dúvidas: “É preciso parar de vender quantidade de suites, quantidade de quartos, metros quadrados e aprender a promover a felicidade sustentável no imóvel”.

Em entrevista ao idealista/news, Marcus Araujo explica “tudo que é metrificável e que as pessoas podem tocar perdeu valor, tudo que é no campo experienciável e emocional ganhou destaque”. Além disso, sublinha que as “doenças, epidemias, pandemias, guerras e conflitos aumentam sempre o valor dos imóveis, pois são o investimento mais seguro para períodos de incertezas”, isto é, o “imóvel segue como prioridade na vida humana em qualquer lugar do planeta”.

O especialista diz não ter dúvidas de que existe um antes e um depois da pandemia, e que o setor terá de adaptar-se às novas realidades. Marcus Araujo considera um risco o desenvolvimento de novos empreendimentos apenas com a visão do presente, “pois como o tempo é relativo, e hoje passa mais rápido e as mudanças de expectativas se aceleram, os novos imóveis já precisam ser desenvolvidos com visão de futuro”. E, portanto, defende que todas as empresas deveriam ter um “departamento de futuro”.

Marcus Araujo é autor do best seller “Meu imóvel meu mundo”, e alguém que participa ativamente na de “(r)evolução do morar”, explorando as novas tendências do mercado imobiliário, através de uma análise do que é a habitação e do rumo que o setor deve seguir para dar resposta as novos padrões de procura. É um dos organizadores e oradores do evento SIMM! Lisboa 2022, que junta vários profissionais do setor imobiliário esta segunda-feira, 12 de setembro, para um debate sobre o imobiliário português e brasileiro, e que pretende facilitar e estreitar relações entre os dois países.

Em 2022, Marcus Araujo tornou-se curador exclusivo do Programa "Gestão da Emoção - Mentes Saudáveis & Lares Felizes" desenvolvido em parceria com o psiquiatra e escritor Augusto Cury, que também marcará presença no evento.

Em entrevista ao idealista/news, que agora reproduzimos na íntegra, antecipa tendências, analisa oportunidades e riscos no imobiliário, deixando alguns conselhos para quem opera no setor, nomeadamente da mediação imobiliária.

família feliz em casa
pexels

Apresenta-se como sendo alguém que participa “ativamente da (r)evolução do morar”. Isto o que significa?

Diariamente novos arranjos familiares surgem, exigindo do mundo imobiliário novas soluções. Os quartos para animais de estimação seriam o absurdo na década de 1980, pois os cães ficavam do lado de fora das casas e apartamentos. Hoje eles estão dentro de casa e muitos já ocupam quartos, com acessórios projetados especialmente para eles.Numa venda de imóvel, nos anos de 2010, jamais alguém se dirigia a uma criança de 7 anos de idade filha de um casal, pois ela não decidia nada, mas hoje as crianças de 7 a 11 anos já decidam em qual casa ou apartamento em que as famílias irão morar. Essa é a (r)evolução do morar, através dos dados e habilidade de pensar o futuro dos imóveis me sinto com a missão da anunciar estas novas demandas para que os empresários possam se antecipar e atender os novos desejos.

Que grandes mudanças estão atualmente a acontecer no mercado imobiliário, por parte de quem compra, arrenda, vende ou investe?

A principal delas é menos propriedade e mais arrendamentos, principalmente arrendamentos por temporada. Os mais jovens querem arrendar, os mais velhos querem investir em imóveis e ganhar dinheiro com o desprendimento dos mais jovens. Esse é o novo mundo.

Há um antes e um depois da pandemia?

Sim, a pandemia foi o resgate do valor mais ancestral dos imóveis: a proteção da vida humana. A caverna de 100 mil anos atrás protegia-nos dos ursos, lobos e leões, os imóveis de 2020 protegeram-nos de uma ameaça invisível à nossa espécie: o vírus da Covid-19.

E agora no atual contexto de uma recessão económica à vista a nível internacional, provocada por alta inflação, subida das taxas de juros e outros constrangimentos agudizados pela guerra?

Todas as vezes que a vida está ameaçada os imóveis valorizam, doenças, epidemias, pandemia, guerras e conflitos aumentam sempre o valor dos imóveis, pois eles são o investimento mais seguro para períodos de incertezas. Assim sendo, o imóvel segue como prioridade na vida humana em qualquer lugar do planeta.

Todas as vezes que a vida está ameaçada os imóveis valorizam, doenças, epidemias, pandemia, guerras e conflitos aumentam sempre o valor dos imóveis

Que grandes oportunidades e riscos identifica atualmente no mercado imobiliário?

Encaro como risco o desenvolvimento de novos empreendimentos apenas com a visão do presente, pois como o tempo é relativo, e hoje passa mais rápido e as mudanças de expectativas se aceleram, os novos imóveis já precisam ser desenvolvidos com visão de futuro, pois como demoram 3 a 4 anos para serem desenvolvidos, muitas vezes já chegam ultrapassados às mãos dos clientes. As empresas precisam de ter um “departamento de futuro” ou um futurologista do morar para acrescentar as novas expectativas aos projetos.

novos empreendimentos
unsplash

Quais as grandes tendências do momento?

Menos propriedade e mais arrendamento. Menos paredes internas nos imóveis, pois as famílias menores não podem ser privadas do contacto direto através do olhar e as muitas paredes hoje atrapalham a interação humana; mais animais de estimação dentro de casa com quartos e acessórios; crianças da geração alpha decidindo a compra mesmo sendo os pais que pagam a conta; morar em qualquer país e trabalhar à distância, maior interação humana nos empreendimentos para uma geração inteira de filhos únicos com poucos primos.

Que conselhos daria a quem opera no setor, nomeadamente a nível da mediação imobiliária e da gestão de investimentos?

Parar de vender quantidade de suites, quantidade de quartos, metros quadrados e aprender a promover a felicidade sustentável no imóvel, essa é a nova forma de desenvolver e vender imóveis. Tudo que é metrificável e que as pessoas podem tocar perdeu valor, tudo que é no campo experienciável e emocional ganhou destaque.

casas para jovens
pexels

É curador de Augusto Cury no Projeto Mentes Saudáveis & Lares Felizes. Em que consiste esta iniciativa?

Augusto Cury é o cientista da felicidade, psiquiatra mais lido na atualidade no mundo, e a nossa parceria vida promover a felicidade sustentável nos lares das famílias através das incorporadoras. Ser feliz não é apenas no dia em que se compra um imóvel, ser feliz é um estado que pode ser atingido através da aplicação das ferramentas de gestão da emoção de autoria do Dr. Cury. A nova fronteira do mundo imobiliário é ser feliz em qualquer imóvel, do mais simples ao mais sofisticado, como ele mesmo diz: “Na era do hiper entretenimento há muitas pessoas que são verdadeiros miseráveis em suas emoções mendigando o pão da alegria morando em palácios”.

A nova fronteira do mundo imobiliário é ser feliz em qualquer imóvel, do mais simples ao mais sofisticado

Qual a importância das emoções no mundo das casas, nas diferentes esferas: sejamos investidores, sejamos profissionais do setor, sejamos moradores?

A ansiedade é o mal do século e foi amplamente potencializada pela pandemia. Segundo o Dr. Cury, a gestão da emoção promove a capacidade de ser feliz e bem sucedido sem negociar a sua paz interior e sem sacrificar o convívio com as pessoas que amamos. E isso é importante para todos nós, como moradores, investidores, promotores e brokers.

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