Casas mais caras? “Agravamento nas usadas não será tão significativo”

Duarte Ferreira dos Santos, Vice President of Investments da Casavo em Lisboa, fala sobre a iBuyer e o imobiliário em Portugal.
20 jun 2022 min de leitura

Casavo, plataforma italiana digital para o mercado residencial que adquire imóveis de forma rápida e simples, “aterrou” em Portugal no início do ano, sendo uma das iBuyers a operar no mercado nacional. “O balanço é muito positivo”, começa por dizer ao idealista/news Duarte Ferreira dos Santos, Vice President of Investments em Lisboa da Casavo. O responsável assegura, de resto, que “o setor imobiliário precisa de soluções inovadoras que tornem o processo de compra e venda de casa mais simples e cómodo e que aumentem a transparência do mercado”. Sobre a eventual subida dos preços das casas no atual contexto de inflação alta, bem como de custos de construção e taxas de juro elevados, considera que no caso dos imóveis usados “o agravamento não será tão significativo”.

Entre os vários temas abordados na entrevista, concedida por escrito, Duarte Ferreira dos Santos alerta para o facto de, na construção nova, os promotores imobiliários poderem sentir a “necessidade de aumentar os preços de venda ou adiar o desenvolvimento dos projetos”, devido a fatores “como os atrasos nos licenciamentos, a escassez de mão de obra e o aumento dos custos das matérias-primas”. Uma coisa é certa, “de forma a atender às necessidades das famílias, será cada vez mais importante renovar as casas usadas, que se encontram envelhecidas e desatualizadas”, garante. 

valor das casas
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O responsável salienta, nesse sentido, que na Casavo, além de se comprarem “casas diretamente aos proprietários”, também há um trabalho de renovação dos imóveis que é feito antes dos mesmos voltarem ao mercado. “Sempre a um preço justo e acessível para as famílias portuguesas”, assegura. “Através da remodelação das casas que compramos, estamos a contribuir para a renovação do parque habitacional da cidade [de Lisboa], que se encontra envelhecido e desatualizado”, acrescenta. 

A entrevista realizada a Duarte Ferreira dos Santos pode ser lida em baixo na integra. 

A Casavo chegou a Portugal em janeiro de 2022. Que balanço faz da operação? Está a corresponder como esperado? 

O balanço é muito positivo. Temos sentido muita recetividade ao nosso modelo de negócio e à nossa proposta de valor, tanto por parte dos compradores e vendedores de casas, como por parte de outros agentes de mercado. Todas as pessoas reconhecem que o setor imobiliário precisa de soluções inovadoras que tornem o processo de compra e venda de casa mais simples e cómodo e que aumentem a transparência do mercado. Somos contactados diariamente por muitas pessoas que procuram compreender como funciona a nossa plataforma e de que forma poderá corresponder às suas necessidades. Além disso, estamos a cumprir o plano inicial de aquisições e já estamos a comercializar um primeiro conjunto de apartamentos renovados de diferentes tipologias e para diferentes segmentos, em localizações muito interessantes.

A Casavo está apenas presente em Lisboa, certo? Está prevista a chegada a outras cidades portuguesas? 

Neste momento, a equipa está focada em consolidar a operação em Lisboa. Contudo, continuamos a avaliar a possibilidade de operar noutras cidades por toda a Europa, incluindo em Portugal, mas ainda nada está decidido.

"(...) O setor imobiliário precisa de soluções inovadoras que tornem o processo de compra e venda de casa mais simples e cómodo e que aumentem a transparência do mercado"

A empresa foi fundada em 2017, em Milão, e tem escritórios em várias cidades italianas e também espanholas (Madrid e Barcelona). Porquê a escolha de Lisboa para dar continuidade à internacionalização da empresa? Que diferenças encontram no mercado português face a outros? Há vantagens em ter uma presença nos três países do sul da Europa? 

A nossa missão passa por mudar a forma como se vende e compra casas na Europa, oferecendo uma solução fácil, rápida e transparente. Uma vez que o mercado imobiliário português, como outros mercados do sul da Europa, é muito fragmentado, complexo e offline, pareceu-nos uma excelente oportunidade para continuar a nossa estratégia de expansão. Por outro lado, o mercado residencial na Área Metropolitana de Lisboa tem um volume de transações interessante e está alinhado com os objetivos de uma plataforma como a Casavo, uma vez que, culturalmente, a maioria das pessoas ainda prefere comprar casas em vez de arrendar. Além disso, na Casavo, não só compramos as casas diretamente aos proprietários, como também fazemos renovações extensivas antes de as colocarmos novamente no mercado, sempre a um preço justo e acessível para as famílias portuguesas.

comprar e vender casa
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O nosso modelo procura transformar e inovar os processos associados ao setor imobiliário e ser uma opção disruptiva que traz transparência, confiança e conveniência a quem planeia vender ou comprar uma casa em Portugal. Além disso, através da remodelação das casas que compramos, estamos a contribuir para a renovação do parque habitacional da cidade, que se encontra envelhecido e desatualizado.

"(...) Na Casavo, não só compramos as casas diretamente aos proprietários, como também fazemos renovações extensivas antes de as colocarmos novamente no mercado, sempre a um preço justo e acessível para as famílias portuguesas"

Quanto é que a Casavo já investiu em Portugal e quanto prevê investir até final do ano e nos próximos anos? Como financiam a vossa atividade? 

Para Portugal, temos um ambicioso plano de investimento de mais de 100 milhões de euros para adquirir imóveis e realizar a sua renovação, a curto prazo. A nossa operação exige uma grande capacidade de investimento, que conseguimos assegurar pelo financiamento que levantámos nos últimos anos. Desde 2017, já angariámos mais de 450 milhões de euros em equity e dívida, incluindo uma ronda de investimento de 200 milhões de euros que foi levantada no ano passado, em plena pandemia, e apoiada por grandes investidores internacionais como Exor, Greenoaks Capital, Project A Ventures, 360 Capital, Picus Capital, P101, Bonsai Partners, D.E. Shaw & Co e Goldman Sachs.

"(...) Através da remodelação das casas que compramos, estamos a contribuir para a renovação do parque habitacional da cidade, que se encontra envelhecido e desatualizado"

Quantas casas é que a Casavo já vendeu e comprou em Portugal e quantas espera vender e comprar até final do ano? 

Estamos a cumprir o plano de transações que delineámos para Lisboa, sendo que, até ao final deste ano, esperamos realizar mais de uma centena de transações de compra e venda.

Qual é o perfil dos vossos clientes nos dois lados do negócio? Particulares, agências de mediação imobiliária, fundos, etc.? 

A nossa audiência tem sido muito diversificada, tanto a nível etário como em perfil social. Os vendedores são clientes particulares que procuram tipicamente uma solução “chave-na-mão” que os liberte da burocracia inerente ao processo e que assegure uma venda rápida, conveniente e simples, com apenas uma visita ao imóvel e sem tempo perdido desnecessariamente. Ao contrário do que se possa pensar, os clientes não são apenas as pessoas que precisam de vender a casa mais rápido, mas também todos os que procuram conveniência e simplicidade no processo. Por outro lado, os nossos compradores também apresentam perfis diversificados. Tal como seria de esperar, sentimos muita procura por parte de famílias que procuram comprar casas modernas em boas localizações e com preços justos e acessíveis. No entanto, somos também procurados por investidores, tanto individuais como empresas, que procuram casas para rentabilidade.

agentes imobiliários
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Por último, também temos trabalhado muito com agências imobiliárias de diferentes dimensões e segmentos, oferecendo soluções inovadoras através do nosso programa Casavo para Agências. Neste segmento, temos sentido particular interesse por parte de agências de menor dimensão que procuram transformar o seu negócio recorrendo à tecnologia. 

"(...) Sentimos muita procura por parte de famílias que procuram comprar casas modernas em boas localizações e com preços justos e acessíveis. No entanto, somos também procurados por investidores, tanto individuais como empresas, que procuram casas para rentabilidade"

Só vos interessam casas (segmento residencial) ou também outro tipo de imóveis? 

A nossa missão passa por transformar o mercado residencial e oferecer uma solução completa que acompanhe os nossos clientes ao longo de toda a jornada, desde a venda da sua casa atual até à compra e vivência de uma nova casa. Nesse sentido, apenas estamos focados neste segmento.

Há já outras iBuyers a operar em Portugal, como por exemplo a Tiko. O que distingue a Casavo da concorrência? 

Temos um foco constante na experiência dos clientes, procurando oferecer um acompanhamento personalizado em todas as etapas do processo e uma solução “chave-na-mão” que elimine toda a complexidade. A equipa de tecnologia trabalha, de forma permanente, para lançar novos produtos, funcionalidades e serviços inovadores que resolvam os diferentes problemas que as pessoas enfrentam nesta jornada e que aumentem a simplicidade e transparência do processo. 

Além disso, as nossas equipas de renovações desenvolvem projetos de remodelação inovadores, com design atrativo e com elevada eficiência energética (incluindo novos sistemas de aquecimento, substituição total das caixilharias e instalação de equipamentos de última geração, entre outros).

Por último, acreditamos que o nosso sucesso tem também passado pela colaboração permanente com agências imobiliárias e profissionais do setor em todas as cidades em que operamos. As sinergias que estabelecemos com as agências são benéficas para todos, em particular para os clientes.

Por quantas pessoas é composta a Casavo em Portugal? 

Temos uma equipa de 10 pessoas no escritório de Lisboa e estamos à procura de novos profissionais para integrar as equipas comerciais. A Casavo conta, atualmente, com mais de 400 colaboradores em três países - Itália, Espanha e Portugal.

A Casavo “aterrou” em Portugal em plena pandemia e o mundo enfrenta agora uma guerra. O conflito armado está a ter algum impacto, positivo ou negativo, no negócio da Casavo? E no setor imobiliário em Portugal em geral? 

Qualquer contexto de guerra traz imprevisibilidade e incerteza, levando a que potenciais compradores e vendedores possam repensar ou atrasar a tomada de decisões. No entanto, devido à falta de oferta de construção nova e à elevada procura originada pelas necessidades das famílias pós-pandemia, não prevemos que o mercado de casas renovadas seja significativamente afetado pela conjuntura que vivemos, em particular as casas que apresentem preços enquadrados com os rendimentos dos portugueses.

"(...) Devido à falta de oferta de construção nova e à elevada procura originada pelas necessidades das famílias pós-pandemia, não prevemos que o mercado de casas renovadas seja significativamente afetado pela conjuntura que vivemos"

Apesar dos preços das casas continuarem a aumentar em Portugal, mesmo em tempos de pandemia, continuam a vender-se muitas casas. Esta tendência vai manter-se?

Acreditamos que a elevada procura que se tem verificado se vai manter, embora seja expectável um abrandamento nesta trajetória de crescimento de preços, que acreditamos ser saudável para o equilíbrio do mercado. Este abrandamento poderá ser fruto não só do aumento do custo de vida das famílias, associado ao contexto geopolítico atual, mas também da subida das taxas Euribor e das novas regras que o Banco de Portugal aplicou aos créditos habitação, que poderão contribuir para aumentar os encargos das famílias. Ainda assim, acreditamos que o mercado imobiliário continuará a ser sólido e sustentável e que o ajustamento não será significativo.

tecnologia no imobiliário
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Portugal continua e continuará a ser um destino interessante e apelativo para investimento em imobiliário, nomeadamente no segmento residencial e por parte de cidadãos estrangeiros?

Apesar do contexto de guerra, acreditamos que esta tendência se irá manter ou até acentuar. Nos últimos anos, Portugal tem sido um dos países europeus mais procurados por parte de estrangeiros que procuram não só investir, como estabilizar a sua vida no nosso país. Além de ser um mercado que se caracteriza como dinâmico e atrativo, Portugal dispõe de inúmeras características, como a qualidade de vida, o clima, a segurança e as baixas taxas de juro, que são muito atrativas para o investimento estrangeiro.

"A construção nova está limitada por fatores como os atrasos nos licenciamentos, a escassez de mão de obra e o aumento dos custos das matérias-primas. Neste sentido, os promotores imobiliários têm a necessidade de aumentar os preços de venda ou adiar o desenvolvimento dos projetos. Contudo, no mercado de casas usadas, que representa grande parte das transações e do parque habitacional em Lisboa, acreditamos que este agravamento não será tão significativo"

Inflação em máximos históricos, taxas de juro a subir, custos de construção a aumentar, escassez de materiais, novos limites ao crédito habitação… Que impacto terão estes e outros fatores no negócio da Casavo em Portugal e na atividade imobiliária no país? 

A construção nova está, neste momento, limitada por fatores como os atrasos nos licenciamentos, a escassez de mão de obra e o aumento dos custos das matérias-primas. Neste sentido, os promotores imobiliários têm a necessidade de aumentar os preços de venda ou adiar o desenvolvimento dos projetos. Contudo, no mercado de casas usadas, que representa grande parte das transações e do parque habitacional em Lisboa, acreditamos que este agravamento não será tão significativo. Na nossa opinião, de forma a atender às necessidades das famílias, será cada vez mais importante renovar as casas usadas, que se encontram envelhecidas e desatualizadas. Neste sentido, plataformas como a Casavo terão um papel fundamental na disponibilização de casas acessíveis aos jovens e às famílias. 

Sinta-se à vontade para acrescentar qualquer informação que considere pertinente. 

O modelo de negócio da Casavo passa por executar um volume significativo de transações, a fim de permitir economias de escala nos processos de renovação e venda, e não em ganhar margens oportunistas. A transparência e os preços adequados são dois dos principais fatores que diferenciam a nossa oferta e, para que isto seja possível, recorremos à nossa tecnologia e a peritos imobiliários locais para apresentar avaliações precisas aos nossos vendedores e praticar preços justos no momento de compra e venda dos imóveis. Neste sentido, temos recolhido feedback dos utilizadores que têm avaliado as suas casas no nosso website e a grande maioria indica que a nossa avaliação está dentro das suas expetativas. 

Além disso, vamos lançar brevemente uma ferramenta que permitirá obter um relatório detalhado dos critérios tidos em conta na nossa avaliação final do imóvel, após realização de uma visita física ou virtual. Desta forma, procuramos tornar o nosso processo ainda mais transparente. 

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