"É urgente que possamos viver em casas de baixo custo energético" José Almeida, CEO da Energia Unida explica a importância das Comunidades de Energia, em entrevista ao idealista/news. 27 mai 2022 min de leitura Há uma crise internacional instalada, que tem a energia como pano de fundo, e que tem vindo a servir de catapulta à inflação, muito por efeito da Guerra na Ucrânia. Os consumidores sentem os efeitos diretamente na fatura da energia, mas também de uma forma geral, nas contas do agregado familiar, desde o supermercado, ao custo direto com a habitação, até outras despesas. Por outro lado, Portugal tem um alto nível de casas com más condições térmicas e de conforto. Para combater tudo isto, há que reforçar o recurso a energias renováveis e investir em casas eficientes, defende José Almeida CEO Energia Unida, empresa do grupo GreenVolt, em entrevista ao idealista/news. Este domingo, dia 29 de maio, celebra-se o Dia Nacional da Energia e as comunidades de energia ganham, neste contexto, um novo protagonismo, pelas vantagens que oferecem a todos, segundo argumenta o gestor. A fim de incentivar a produção de uma energia mais limpa e mais inteligente, nasceu a portuguesa GreenVolt, a companhia de energias renováveis de maior crescimento na Europa, que tem vindo a ganhar força mediática pelo investimento que tem feito dentro e fora de portas. Recentemente, a GreenVolt comprou, por exemplo: uma central solar de 45 megawatts MW na Roménia por 83 milhões de euros; um projeto para desenvolver um parque eólico de 90 MW na Islândia; criou uma parceria estratégica para investir 170 milhões em energia solar em Espanha fez nascer a Energia Unida (EU). No caso da Energia Unida, o objetivo é promover as chamadas comunidades de energia, que não sendo uma novidade em Portugal, são uma aposta de compromisso da GreenVolt. Mas quais são realmente as vantagens das comunidades de energia? Segundo o José Almeida, CEO da Energia Unida, os portugueses podem consumir o excedente de energia gerada pelos grandes produtores. Ou seja, deixa de haver desperdício energético, num caminho para redução das despesas de eletricidade no final do mês e para diminuição das emissões de CO2. José Almeida explica que se incentiva à partilha, a uma consciencialização coletiva de como as fontes de energia renováveis são fundamentais para reduzir a pegada de carbono. É, por isso, fundamental na perspetiva do responsável, que trabalhemos todos juntos em prol de melhores comportamentos, que contribuirão para um futuro mais sustentável. GreenVolt / Energia Unida Quais são as áreas de atividade da GreenVolt? Neste momento a GreenVolt opera em Portugal com cinco centrais de produção de energia termoelétrica a partir de biomassa florestal, com cerca de 100 MW de potência instalada. Além disso, temos uma central de produção de energia elétrica através de biomassa residual urbana no Reino Unido, com cerca de 42 MW. Somos também dos maiores promotores de projetos de energia eólica e solar fotovoltaica, com operações em vários mercados como Portugal, Reino Unido, Polónia, Grécia, Itália, França, Espanha, Roménia e Bulgária. Também operamos nos Estados Unidos. Atualmente o "pipeline" de projetos da GreenVolt ascende a 5,6 GW, dos quais cerca de 3,7 GW estão em fase avançada de desenvolvimento. Estamos presentes no segmento do autoconsumo energético através de painéis fotovoltaicos. Aquilo que a GreenVolt faz nos mercados português e espanhol é apresentar soluções para reduzir as despesas de eletricidade dos seus clientes, sejam particulares ou empresariais. Este é o nosso fosso da criação e dinamização de Comunidades de Energias Renovável (CER). "Necessitamos que todos percebam a urgência de substituir as fontes de geração de energia dos combustíveis fósseis para as energias renováveis" Como surgiu a ideia para a criação da empresa EU (Energia Unida)? Unsplash Acreditamos que a geração de energia renovável a partir de painéis fotovoltaicos será importante no processo de transição energética. As Comunidades de Energia podem funcionar como acelerador dessa transição, pois permitem o acesso a energia 100% renovável. A Energia Unida nasce da visão da GreenVolt quanto ao potencial das Comunidades de Energia, especialmente num país como Portugal que conta com elevados níveis de irradiação solar. É curioso como a sigla da Energia Unida lê-se “EU”. É necessário os consumidores perceberem que para mudar o mundo e torná-lo numa comunidade de eletricidade é preciso partir do interior das suas próprias casas? As famílias e as empresas devem entender a necessidade de aproveitarmos os inúmeros recursos renováveis para a geração de energia. Necessitamos que todos percebam a urgência de substituir as fontes de geração de energia dos combustíveis fósseis para as energias renováveis. Eu posso fazer o meu papel, tornando a minha casa ou a minha empresa mais eficiente, mais amiga do ambiente. Depois é necessário que percebamos que o Eu tem, na realidade, de ser um Nós, comunidade, a trabalhar nesse sentido. Porque é importante promover tanto a produção como a partilha de energia renovável a partir de painéis fotovoltaicos? Portugal, mas também Espanha, conta com níveis de irradiação solar muito superiores aos registados noutros países europeus. Temos sol durante a maior parte do ano, mesmo nas estações menos prováveis. É preciso aproveitar este recurso. O nosso país é um dos que menos explora o potencial desta energia que pode e deve ser captada através de algo tão comum como os painéis fotovoltaicos. GreenVolt / Energia Unida Quais são as vantagens de ser cliente da Energia Unida? E em que medida se distinguem os papéis de clientes produtores dos clientes consumidores? Na Energia Unida trabalhamos com “Produtores” e “Consumidores”. Os produtores são em regra geral os clientes empresariais, com espaço físico disponível para a instalação de painéis fotovoltaicos. Estamos a falar, por exemplo, de grandes armazéns do setor da logística, mas podemos estar a falar de um grande condomínio turístico. São essencialmente clientes que têm a capacidade de produzir energia renovável, mas que não têm necessidade da totalidade da energia, podendo partilhar a restante com “consumidores” que estejam no seu raio de influência. Estamos a falar de clientes particulares localizados até 4 km de distância, que podem tirar proveito dessa energia renovável, que é também mais barata. De que forma quem produz energia para autoconsumo pode vender o excedente à rede? E compensa? É possível fazer a injeção da energia produzida de forma excedentária na rede. Na proposta de Orçamento do Estado para 2022, o Governo até avança com uma isenção de ISP sobre a eletricidade gerada para autoconsumo a partir de fontes de energia renovável, mas não toda. Esta isenção aplica-se até ao limite de 1 MW de potência instalada, pagando-se acima disso. Em vez de se fazer a injeção na rede, o que a Energia Unida propõe é que os produtores, com capacidade de geração superior à necessidade efetiva, optem por partilhar a energia extra com a comunidade. Tal ajuda-os a poupar na fatura energética, ao mesmo tempo que contribui para reduzir a fatura dos restantes membros da comunidade, nomeadamente os clientes particulares. "A energia renovável terá sempre um custo inferior àquela que têm contratada com o atual comercializador" Pode este novo serviço da GreenVolt ajudar os portugueses a pouparem energia na sua fatura mensal? O que propomos é que as famílias portuguesas se juntem às várias comunidades de energia que estamos a criar, passando a consumir sempre que possível energia renovável. Esta energia terá sempre um custo inferior àquela que têm contratada com o atual comercializador. Pexels Haverá uma poupança, principalmente no contexto atual de subida dos preços da energia nos mercados. Outra das vantagens para os consumidores é o facto de não necessitarem de se desvincular do seu comercializador para entrar numa comunidade. Dizem que é possível conseguir uma poupança no valor da energia consumida de até 20% com a vossa solução. Qual o investimento necessário? Como referi, as famílias conseguirão sempre uma poupança entre o custo da energia consumida através da comunidade de energia renovável e aquela que têm contratada junto do seu comercializador. Para obter esta poupança basta ajudar as comunidades de energia a crescer. Não há qualquer investimento por parte das famílias. Elas vão consumir energia que é gerada em excesso através dos produtores. Como avaliam os apoios à eficiência energética, atualmente em vigor, para tornar o parque imobiliário português mais sustentável? Portugal é dos países europeus com mais pessoas em situação de pobreza energética. Praticamente um em cada cinco portugueses está nesta situação, por isso era urgente que se tomassem medidas. Foram criados vales para famílias mais necessitadas poderem dar resposta a este problema. Foram ainda definidos apoios para que toda a população pudesse investir na eficiência energética das suas casas. É urgente que todos possamos viver em casas confortáveis, que sejam inclusive casas de baixo custo em termos energéticos. Portanto, os apoios concedidos vão no bom sentido: eficiência energética com foco nas energias renováveis. "Temos sol durante a maior parte do ano, mesmo nas estações menos prováveis. É preciso aproveitar este recurso" Pexels O Governo anunciou recentemente que perante a escalada dos preços da energia haverá um reforço das verbas de apoio à instalação de painéis fotovoltaicos. Será reduzido para 6% o IVA sobre painéis fotovoltaicos, o que pode fomentar a procura por estes equipamentos, seja para autoconsumo como para o desenvolvimento de comunidades de energia. No atual contexto de dependência energética do exterior e da subida dos preços de energia, qual a importância deste tipo de soluções como a que oferecem? Que passos há que dar por quem queira avançar neste sentido em Portugal? É de extrema importância. Acreditamos no elevado potencial das comunidades de energia renovável, com partilha de energia entre Produtores e Consumidores. E acreditamos que a expansão da geração de energia a partir do sol terá, inevitavelmente, de passar por esta democratização da produção. Portugal está preparado para avançar em termos de produção de energia para autoconsumo de uma forma generalizada como outros países? Digamos em termos legais, de oferta tecnológica e de predisposição dos consumidores? Portugal está mais do que preparado. Temos o essencial: o sol. Temos legislação adequada, há oferta de painéis fotovoltaicos no mercado e há empresas, como a Energia Unida, que estão a trabalhar para que rapidamente se comece a tirar partido desta fonte de energia. Estamos cá para trabalhar nesse sentido. Queremos de alertar empresas e famílias para os benefícios ambientais e monetários que terão se produzirem e consumirem energia renovável em comunidade. "Junto dos Consumidores acreditamos que há apetência por energias mais limpas" Que estratégia precisa de ser delineada não só para a GreenVolt - Energias Renováveis, como para Portugal em termos legislativos para que as comunidades de energia sejam um termo popularmente mais conhecido por todos os cidadãos? Em termos legislativos os passos estão dados. Está feito o enquadramento para aquilo que são as Comunidades de Energia Renovável, um passo fulcral para começarem a ser desenvolvidas. Cabe-nos agora nós fazer o trabalho de campo, junto de empresas e famílias. Temos que ir ao encontro dos potenciais produtores para lhes apresentarmos a Energia Unida, para lhes darmos a conhecer aquilo que oferecemos para a conceção e instalação dos painéis sem custos. Iremos explicar as vantagens em termos ambientais e de custos com a criação das comunidades, onde parte da energia é partilhada com clientes consumidores. Junto dos consumidores acreditamos que há apetência por energias mais limpas. Muitas vezes há a questão da impossibilidade do autoconsumo, mas através das nossas competências, poderemos superar esse obstáculo, ajudando às famílias a beneficiarem da energia renovável ao preço mais baixo. O edifício da Energia Unida e o edifício da GreenVolt, instalados em Lisboa funcionam já como Comunidades de Energia. Quais são os próximos projetos? A Energia Unida já acordou a criação de algumas Comunidades de Energia Renovável, contando com uma capacidade instalada de aproximadamente 3,1MW, evitando a emissão de 1.234 toneladas de gases poluentes para a atmosfera. Pexels A primeira dessas Comunidades de Energia foi constituída no edifício onde tanto a Energia Unida com a GreenVolt se encontram instaladas em Lisboa, algo que demonstra o compromisso de liderar pelo exemplo. Existem outras Comunidades em funcionamento, sendo a mais recente criada em parceria com a Vanguard Properties para projetos imobiliários, turísticos e hoteleiros da “Muda Reserve” e das “Terras da Comporta”, que engloba os loteamentos “Torre”, em Alcácer do Sal e o “Dunas”, em Grândola, num total que ronda os 1.500 hectares. A parceria vai levar à criação de uma das maiores comunidades energéticas da Europa com produção estimada de 3 MW, garantindo uma autonomia energética de pelo menos 80%, através de fontes renováveis. Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado