Inflação: o que é e como afeta a tua vida? Explicamos Aumento generalizado dos preços está a ter efeitos diretos e indiretos nas contas dos portugueses. E neste guia explicamos porquê. 21 abr 2022 min de leitura Índice de conteúdo O que é a inflação? Como é calculada a inflação? O que no diz a inflação? Porque é que é importante estabilizar os preços? Como está a evoluir a inflação em Portugal? E na Zona Euro? Porque é que a inflação está a disparar na Europa e no mundo? Onde se sente mais os efeitos diretos da inflação? Qual é o impacto indireto da subida da inflação? Aumento dos custos dos empréstimos da casa Inflação gera mais inflação Reduz o emprego, a competitividade e crescimento económico Menos estabilidade social Quais são as previsões da evolução da inflação para 2022? E 2023? A economia europeia e mundial está de olhos postos num indicador económico: a inflação, que não para de crescer - em Portugal disparou para 5,3% em março, sendo esta a taxa mais alta desde 1994. E as previsões não são animadoras para o balanço de 2022. Mas, afinal, o que é a inflação? Como se calcula? E que impacto tem a inflação na vida das famílias e nas empresas? Neste guia preparado pelo idealista/news explicamos quais são os efeitos da inflação na carteira dos portugueses. O que é a inflação? A inflação traduz um aumento geral dos preços dos bens e serviços e não apenas de artigos específicos. E é acompanhada por uma diminuição do valor da moeda ao longo do tempo. Isto quer dizer que com 1 euro, compra-se menos hoje do que ontem. Como é calculada a inflação? Na Zona Euro, a inflação dos preços no consumidor é medida pelo “Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) – diz-se “harmonizado” porque todos os países da União Europeia seguem a mesma metodologia, o que permite comparar as taxas entre países. Para calcular a inflação - ou o IHPC - são tidas em conta várias variáveis, de acordo com a informação disponibilizada pelo Banco Central Europeu (BCE): Preços dos bens e serviços: neste campo são recolhidos os preços de artigos do dia a dia (como produtos alimentares, jornais e gasolina), bens duradouros (como vestuário, computadores pessoais e máquinas de lavar roupa) e serviços (como cabeleireiro, seguros e renda de casa). Por casa país são recolhidos, em média, cerca de 700 bens e serviços em diferentes estabelecimentos comerciais e regiões; Ponderação de produtos: os grupos de produtos são ponderados em função da sua importância nos orçamentos médios das famílias. Por exemplo, a evolução do preço da gasolina (com ponderação de 4,6% neste índice) terá maior impacto na inflação do que a variação do preço do café (que tem um peso de 0,4%). Para o cálculo da inflação da Zona Euro ou da União Europeia é ainda tido em conta a ponderação dos vários países, que é determinada pela percentagem de cada país na despesa de consumo total da área euro. E há uma novidade para o cálculo da inflação: “em 2021, o Conselho do BCE decidiu apoiar a inclusão no IHPC dos custos da habitação ocupada pelo proprietário, com vista a que o índice reflita melhor a experiência das pessoas com o aumento de preços”, lê-se no artigo. Mas será preciso algum tempo até que este indicador seja implementado no índice. Foto de Canva Studio en Pexels O que no diz a inflação? Porque é que é importante estabilizar os preços? Medir a inflação é uma boa forma de acompanhar a evolução dos preços na economia. Funciona como um mapa e ajuda o BCE a tomar as decisões certas. O objetivo do regulador europeu passa mesmo por assegurar que a inflação permanece baixa, estável e previsível, situando-se idealmente nos 2% a médio prazo. Isto quer dizer que com uma inflação a 2% no médio prazo é assegurada a estabilidade de preços. Mas porque é que garantir a estabilidade dos preços é tão importante? Segundo o Banco de Portugal (BdP), os motivos resumem-se nos seguintes: reduz a incerteza quanto à evolução geral dos preços, permitindo aos cidadãos e às empresas tomarem decisões de consumo e investimento mais adequadas; reduz o prémio de risco de inflação (isto é, a remuneração adicional) das taxas de juro, contribuindo para a eficiência dos mercados de capitais na afetação de recursos e aumentando os incentivos ao investimento; torna desnecessárias atividades de cobertura de risco, evitando que os indivíduos e as empresas desperdicem recursos para se protegerem contra a inflação ou a deflação; reduz os efeitos de distorção nos sistemas fiscais e de segurança social; aumenta os benefícios de deter moeda; evita a distribuição arbitrária da riqueza e dos rendimentos; contribui para a estabilidade financeira. Como está a evoluir a inflação em Portugal? E na Zona Euro? Em Portugal, segundo o INE, a taxa de inflação atingiu os 5,3% em março, sendo o valor mais elevado desde junho de 1994, tendo em conta a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC), apontou o Instituto Nacional de Estatística. Já no que diz ao índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC), a subida da inflação foi de 5,5% no país, representando o valor mais elevado desde o início do IHPC, em 1996. No espaço europeu, a taxa de inflação homóloga ultrapassou, em fevereiro, mais uma barreira ao atingir na UE os 6,2% e foi revista em alta para os 5,9% na Zona Euro, de acordo com o Eurostat. Foto de Athena en Pexels Porque é que a inflação está a disparar na Europa e no mundo? A inflação começou a subir no final do ano passado depois de passar anos em níveis baixos. E, segundo o BCE, há três motivos que explicam esta subida no arranque de 2022: Rápida reabertura da economia: com o levantamento das restrições para controlar a pandemia, as pessoas começaram a gastar mais dinheiro e “quando uma economia está em crescimento, é mais fácil para as empresas aumentar os preços sem perder clientes”, explicam; Preços mais altos dos produtos energéticos: o petróleo, o gás e a eletricidade passaram a ser mais caros em todo o mundo. E isto é justificado pelas alterações do clima que influenciaram a produção de energias renováveis e reduziram as reservas de petróleo e gás; "Efeitos de base”: a inflação é atualmente elevada porque foi muito baixa no ano passado. Isto importa porque para calcular a inflação, comparamos a evolução dos preços de um ano para o outro. A estes três fatores que já estavam a fazer subir a inflação no final de 2021/início de 2022 somam-se, agora, outros relacionados com a guerra na Ucrânia, que vem pressionar ainda mais a subida dos preços dos materiais, dos combustíveis e dos alimentos, já que os dois países são grandes exportadores dos mesmos para a Europa e para o mundo. Onde se sente mais os efeitos diretos da inflação? A inflação tem efeitos quase imediatos na carteira dos portugueses e nas contas das empresas, que se podem resumir nos seguintes: Menor poder de compra: diminui a quantidade de produtos que se pode comprar com o mesmo dinheiro. Por exemplo, se a taxa de inflação subir 5% significa que os consumidores precisam de 105 euros para comprar um conjunto de produtos que antes custavam apenas 100 euros; Preços mais altos dos produtos que se compram com frequência: por exemplo, nos combustíveis, no pão, no supermercado, nos bilhetes de autocarro, na energia... Preços dos materiais e matérias-primas a disparar: este efeito é diretamente sentido no dia a dia das empresas que têm agora de pagar um preço superior pela mesma quantidade de produto, um cenário que se deverá refletir no preço final dos produtos colocados à venda. Isto é especialmente sentido no setor da construção e pode mesmo refletir-se no aumento dos preços das casas, tal como apontou Manuel Reis Campos, líder da CPCI e da AICCOPN, neste artigo. Antecipação de despesas, poupanças e investimentos no curto prazo: a subida dos preços incentiva os consumidores a comprar antecipadamente bens com alguma durabilidade e a poupar e investir em ativos financeiros ou metais precisos, tal como aponta Óscar Afonso, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, citado pelo Dinheiro Vivo. Foto de Uriel Mont en Pexels Qual é o impacto indireto da subida da inflação? Aumento dos custos dos empréstimos da casa Este é um dos principais efeitos indiretos da inflação. Isto porque para um dos instrumentos utilizados pelos bancos centrais para travar a inflação passa mesmo pelo aumento das taxas de juro diretoras que vão impactar as taxas de juro dos créditos habitação, sobretudo, as taxas variáveis. As prestações das casas, ao serem atualizadas, acabam por refletir o impacto da subida de juros, consequência da inflação. Embora o BCE tenha mantido a taxa de juro diretora para já, uma subida na segunda metade do ano está em cima da mesa e já se reflete nas taxas Euribor – a taxa a 12 meses atingiu terrenos positivos, recentemente. Inflação gera mais inflação “As aquisições e investimentos antecipados pela inflação pressionam a sua procura, pelo que fomentam a inflação, criando um ciclo de feedback”, refere Óscar Afonso. Reduz o emprego, a competitividade e crescimento económico Os aumentos dos preços pressionam a liquidez das empresas, desincentivando a contratação de trabalhadores e investimentos, tal como refere o também sócio fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude. Menos estabilidade social Com os preços a variar de forma imprevisível, o poder de compra é afetado e, por conseguinte, as poupanças das famílias. “Habitualmente são os grupos mais desfavorecidos que mais são penalizados”, assume Óscar Afonso. Foto de RF._.studio en Pexels Quais são as previsões da evolução da inflação para 2022? E 2023? Para 2022, as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que a inflação em Portugal se situe nos 4% e na Zona Euro nos 5,3%. Contas feitas, salta à vista que a projeção da instituição com sede em Washington está alinhada com a do Governo (inscrita na proposta do OE2022) e com a do Banco de Portugal, ficando muito próxima da previsão do Conselho das Finanças Públicas (3,9%). Já para 2023, o FMI está mais otimista e antecipa uma descida da inflação nas principais economias europeias: Em Portugal, deverá descer para 1,5%; Na Zona Euro deverá cair para 2,3%. Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado