“Qualquer casa pode ser uma smart house” em Portugal – como?

Aliar a tecnologia à habitação é o desejo de cada vez mais famílias que pretendem melhorar o conforto da casa, bem como a sua eficiência energética. Mas nem sempre é fácil encontrar soluções de domótica fáceis de instalar, flexíveis e a preços acessíveis. Foi a identificar esta lacuna no mercado que nasceu a Smartify em plena pandemia, assumindo a missão de democratizar as soluções tecnológicas que têm como propósito tornar as casas mais inteligentes em Portugal. “Na hora de comprar casa, ter domótica é valorizado, mas não é um fator eliminatório, pois conseguimos tornar qualquer casa numa smart house”, garante Mohammad Mudassir Rafiq, co-founder e CEO da Smartify, em entrevista ao idealista/news.

Decorria a pandemia da Covid-19, quando o casal Mohammad Mudassir Rafiq e Aisha Satar - ele engenheiro informático, ela licenciada em estatística aplicada - viram como a tecnologia pode transformar a vida em casa, tornando-a bem mais cómoda e simples, apenas com lâmpadas controladas por voz. E ficaram “fascinados”. Logo quiseram implementar aquela que seria a primeira solução de domótica na sua casa arrendada na Alta de Lisboa, mas depararam-se com uma oferta a “preços proibitivos”.

Foi aqui que surgiu a ideia de negócio: importar soluções de domótica flexíveis e a preços acessíveis para tornar as casas mais inteligentes em Portugal. Assim nasceu pela mão deste casal português natural de Lisboa (filhos de emigrantes paquistaneses e moçambicanos), a Smartify, primeiro como um “passatempo” e, cerca de um ano depois, como negócio levado a tempo inteiro. “Decidimos contribuir neste ramo das smart houses, tentando oferecer uma alternativa mais fácil, portátil e acessível a todos”, que pode ser aplicada tanto em casas próprias como arrendadas, adianta o responsável pela Smartify, na entrevista que partilhamos para ler em seguida.

Como é que surgiu a ideia de criar a Smartify durante a pandemia?  

A Smartify foi criada durante o confinamento em dezembro de 2020, sendo lançada em março de 2021. A ideia surgiu após um jantar em casa de um amigo muito próximo, que tinha lâmpadas controladas por comandos de voz. Na altura, fiquei fascinado. Quando decidimos procurar por esse tipo de equipamentos, percebemos que eram muito caros para o nosso orçamento, o que nos deixou perplexos.

Como já tínhamos alguma experiência na área da importação e exportação, achámos boa ideia importar este tipo de equipamentos. Na altura vivíamos numa casa arrendada na Alta de Lisboa, pelo que apenas fazia sentido comprarmos algo que pudéssemos levar connosco quando saíssemos.

Foi aqui que surgiu a ideia, pois decerto que não eramos os únicos que queríamos este tipo de tecnologia, mas que não podíamos aceder devido aos preços proibitivos praticados em Portugal! E, assim, decidimos contribuir neste ramo das smart houses, tentando oferecer uma alternativa mais fácil, portátil e acessível a todos.

"A procura por soluções de domótica tem vindo a subir gradualmente com o aumento do gosto pelo conforto e automatismo"

Como avalia a oferta de soluções de domótica em Portugal? De que forma é que a Smartify pretende complementar esta oferta? 

A procura por soluções de domótica tem vindo a subir gradualmente com o aumento do gosto pelo conforto e automatismo. O confinamento trouxe-nos ensinamentos importantes, sobretudo, sobre as formas de viver em casa e a importância do conforto do lar.

Hoje, o mercado já tem várias empresas que comercializam este tipo de artigos, embora muitas não sejam especializadas somente em soluções para tornar as casas mais inteligentes, como é a Smartify.

O nosso objetivo é oferecer estes produtos a preços acessíveis, de forma que possam resolver os problemas atuais das famílias. E ainda queremos ensinar o nosso público a instalar os mesmos equipamentos de modo que cada um seja capaz de automatizar a sua casa sozinho. Mas, dependendo da necessidade de cada um, também oferecemos o serviço de instalação e automação.

Como caracterizam a vossa oferta de soluções para tornar as casas mais inteligentes em Portugal (preço, modo de aplicação, flexibilidade)?  

Tentamos ter os melhores preços do mercado mesmo que isso signifique sacrificarmos muito os nossos lucros. E tentamos a cada dia aumentar o leque de soluções de domótica e dos métodos de aplicação, tendo hoje soluções desde "plug and play" a soluções mais complexas.

As nossas soluções de domótica são flexíveis, já que as famílias podem controlar e configurar todos os dispositivos instalados em casa através de uma aplicação no smartphone. Assim, não é necessário contratar um técnico certificado sempre que queremos alterar alguma configuração.

Além disso, as nossas soluções de domótica não exigem passagem de cabulagem própria, tornando a mudança de casa um processo mais rápido e barato. Isto porque estes equipamentos são facilmente desinstalados e podem ser levados para uma nova casa.

Quem é que procura mais as vossas soluções de domótica (particulares, empresas de Alojamento Local, escritórios …)?  

Temos variados tipos de clientes, desde o particular curioso que quer apenas conhecer e fica admirado, a famílias que já conheciam o conceito e compravam no estrangeiro, mas que começaram a optar pelas soluções nacionais. Somos procurados também por empresas de retalho, instaladores de equipamentos, empresas de Alojamento Local, pessoas com mobilidade reduzida, praticantes de caravanismo, entre outros.

Quais são as soluções SmartHome mais procuradas pelas famílias portuguesas? O que pode explicar esta procura? Há procura tanto para casas arrendadas como para habitação própria? Há funcionalidades procuradas que ainda não têm solução no mercado? 

Tem havido uma procura enorme pelos interruptores inteligentes, relés inteligentes, que tornam os interruptores inteligentes sem mudar a estética da casa (ideal para quem não quer mudar tudo e tem receio de ficar diferente). Além disso, também há procura de soluções de controlo de acesso e fechaduras inteligentes, bem como soluções de armazenamento portátil de energia. Também temos sentido uma procura crescente nos pedidos de projetos com painéis solares.

Como as nossas soluções são equiparadas a soluções de domótica tradicional, mas com maior versatilidade, a maioria das vezes sentimos que o facto de estar numa habitação arrendada não costuma pesar na altura de tomar uma decisão. As nossas soluções vão ao encontro do agrado de ambos, dos proprietários das casas e dos inquilinos. Até porque temos uma equipa empenhada a procurar todos os dias novas soluções de domótica para os desafios do dia a dia dos nossos clientes.

"Não há duas pessoas iguais e na Smartify acreditamos que também não há duas casas iguais"

Que conselhos dariam a uma família que quer tornar a sua casa mais inteligente? Por onde podem começar?  

Não há duas pessoas iguais e na Smartify acreditamos que também não há duas casas iguais. Cada uma com a sua necessidade. Para percebermos as necessidades que temos em casa podemos fazer algumas questões-chave, como:

• Quais são as tarefas que faço mais repetidamente e que se fossem feitas automaticamente, sem a minha intervenção, tornaria a minha vida mais fácil?
• Será que perco demasiado tempo em abrir a cada conjunto de estores?
• Como posso encontrar facilmente as chaves de casa (que andam sempre perdidas) ou abrir e fechar a porta sem chaves?
• Como posso facilitar o ligar/desligar luzes, que muitas vezes ficam acesas por esquecimento?

Estas questões são apenas alguns exemplos. Temos de pensar nos problemas e quais as soluções de domótica que existem no mercado que podem ajudar a resolvê-los.

Quais são as principais vantagens em transformar uma casa numa Smart Home? Há poupança a nível energético, por exemplo? Também há riscos a considerar? 

Com uma casa inteligente, podemos controlar vários dispositivos e funções da casa de forma fácil e conveniente. Podemos ligar e desligar as luzes, ajustar a temperatura do ambiente, abrir e fechar cortinas, tudo isso com apenas alguns comandos de voz ou através de uma aplicação no smartphone.

Uma casa inteligente da Smartify pode ajudar-nos a economizar energia, o que é benéfico para o meio ambiente e também para o nosso bolso. Podemos programar os dispositivos para desligarem automaticamente quando não estiverem em uso, ajustar a iluminação de acordo com a necessidade, controlar o consumo energético de forma mais eficiente, por exemplo, baixando os estores nas horas de maior calor para poupar dinheiro na climatização. A imaginação é o limite.

O maior risco a considerar será a aquisição de artigos de baixa qualidade, que no final podem vir a dar mais trabalho do que manter o original.

"O que falta é a democratização e divulgação do conceito de modo a que todos possam ter acesso às casas inteligentes"

Num momento em que a tecnologia está em constante evolução, de que forma é que a inteligência artificial (IA) pode influenciar a vida em casa? Quais as vantagens e os perigos das soluções de IA aplicadas à Habitação? 

Acredito que a IA já está pronta para assumir as rédeas no formato de uma assistente virtual, e não como programadora. Pessoalmente, acho que os recursos ficariam muito otimizados se fossem programados pela IA. Mas será que existe essa necessidade? Será que nossa casa continua a ser um lar se não formos nós a decidir o que lá se passa? Talvez perdêssemos a personalidade da casa em prol da otimização. Tornar uma casa inteligente é um projeto até divertido de levar avante, porque vemos o nosso dia a dia a simplificar-se ao nosso gosto e não de acordo com os parâmetros de uma IA. 

Como vão ser as casas inteligentes do futuro? Como perspetiva a evolução da oferta de casas inteligentes em Portugal ? E da procura por Smart Houses? 

É um bocado difícil dizer como serão as casas do futuro. Acreditamos que o futuro é hoje, a tecnologia já existe. O que falta é a democratização e divulgação do conceito de modo a que todos possam ter acesso às casas inteligentes, como temos acesso a outras luxos tal como a eletricidade. 

Cada vez mais as novas construções e mesmo remodelações profundas já incluem domótica no seu projeto, o que contribui para tornar um conceito cada vez mais abrangente. 

Acredito que na hora de comprar casa, ter domótica incorporada é valorizado, mas não é um fator eliminatório, pois conseguimos tornar qualquer casa numa smart house.